Mercado preocupado com intervenção

Marilia Fontes 22/02/2021 12:24 3 min Atualizado em: 01/04/2021 20:14
Mercado preocupado com intervenção

Depois de Bolsonaro trocar o presidente da Petrobras por um militar, o mercado anda extremamente arisco. A mudança veio após o presidente anterior anunciar um reajuste de 15 por cento no diesel.

Bolsonaro ficou incomodado que o reajuste veio bem na época que ele negociava com os caminhoneiros para evitar uma greve que parasse nossa economia. Longe de mim ser a favor do intervencionismo, mas achei que faltou tato dos dois lados.

O país já está parado, com muitas dificuldades de abastecimento. Uma greve dos caminhoneiros agora nos jogaria para um grande buraco. Um pouquinho de tato político não cairia mal.

Mas o presidente também é aquele elefante em uma loja de cristais. Ele não conversa; ele briga, esbraveja, passa do ponto e ataca a imprensa. O que era para ser um acontecimento normal na vida de uma empresa virou o próximo assunto do momento.

Será que o Bolsonaro mudou?

O mercado se preocupa se Bolsonaro mudou. Memes dele vestido de Dilma circularam nos grupos de ZapZap.

Montagem com o rosto de Bolsonaro no corpo de Dilma.

Muita gente do mercado se perguntando se é o começo do fim. Certamente, na abertura de hoje, veremos um mercado bem estressado, aumentando o prêmio de risco de todos os nossos ativos.

Vou dar a minha opinião sincera: acho que Bolsonaro confia em Guedes para tocar a política econômica. Guedes também já provou ter um bom tato político, sendo bom de oratória e cedendo em certas ocasiões.

Eles me parecem bem alinhados. Acredito que isso foi muito mais o Roberto Castello Branco peitando o presidente, que não leva desaforo para casa, do que uma mudança estrutural de política econômica.

Claro que isso não vai impedir o mercado de colocar mais prêmio nos ativos. Juros vão subir, a bolsa deve cair, puxada por ações da Petro, e o dólar deve se valorizar. Até porque o estrago pode ser gigante se o presidente de fato mudar. Ou seja, há uma assimetria contra.

O que fazer com os meus investimentos?

Hoje, provavelmente, não dará tempo de você fazer muita coisa. Se você não estava protegido, não é agora, no olho do furacão, que vai conseguir se proteger.

Mas eu acredito que esta semana trará oportunidades. Quedas nos preços dos ativos, principalmente por notícias pontuais, geram excelentes oportunidades de entrada naqueles bons ativos que você já estava de olho para comprar.

Não é para comprar tudo, mas sim aquelas ações e ativos que você já estava namorando há algum tempo, porém o preço ainda não te dava margem de segurança suficiente para entrar.

Enquanto isso…

Enquanto o mercado vai à loucura, Guedes e Bolsonaro seguem alinhados. As últimas entrevistas de Guedes não dão nenhum fio de interpretação que a relação dos dois estaria desgastada.

Outro indício positivo seria a aprovação da autonomia do Banco Central, que está indo para sanção do próprio presidente. Ora, se ele quisesse intervir na economia, não seria o momento de ter um Tombini na presidência da instituição? E manter a Selic estável por mais tempo? Vejo ambos muito em paz.

As leis de responsabilidade fiscal, regra de ouro, teto de gastos e a própria PEC emergencial, que está sendo desenhada com mecanismos de compensação de gastos, já dão um tom de responsabilidade grande para o nosso futuro fiscal.

Mesmo que a PEC seja desidratada e não inclua pontos como redução de salários e jornada para o funcionalismo, que são mais polêmicos, ela já é um passo à frente na responsabilidade.

Nenhum presidente pode se dar ao luxo de não olhar o lado social em um país pobre, no qual a desigualdade de renda só aumenta. Isso certamente gera incentivos fortes ao populismo. Por isso é tão importante termos leis de responsabilidade e instituições fortes e independentes.

Caso haja uma inclinação ao populismo, ela fica limitada a apenas o que a lei permite.

Desejo-lhes um excelente dia e bons negócios.

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